Neste livreto de sonetos, o poeta eterniza suas impressões sobre lugares pelos quais passou ou que fazem parte de seu quotidiano. Apaixonado pela engenharia e pela cultura, admira-se com as realizações humanas como resultado de criatividade, engenhosidade e determinação, especialmente aquelas que se convertem em espaços públicos.
Cidades, praças, festividades comunitárias - tudo merece um retrato na alma e na caneta de Gama Bell.
As poesias deste livreto estão registradas na Biblioteca Nacional:
Registro 579.037, Livro 1.106, Folha 112
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Tanto outro visual já vestiu o Nordeste
A bem da verdade, ontem, tão malbaratado
Hoje, em seu pedestal de glória, respeitado,
Fazendo jus à fama, ei-lo "cabra da peste"
Não lhe faltam motivos de orgulho sadio
E, em todos os segmentos, tal desenvoltura
Que tem muito presente e seleta cultura,
Venturoso o porvir como Deus lhe previu
Precisamente agora, em versos derradeiros,
Bem por inteiro seja público o universo
De valores. Em todo sempre, excelsa cor:
O não poder ser mais hospitaleiro,
Tenaz e muito forte frente ao tempo adverso
Prazenteiro, vibrante e humano o seu calor...
Revista Tribuna Literária, João Pessoa (PB), novembro de 2007.
Absoluta e envolvente imagem, diz a História
De um distante e fantástico passado, atento,
Ah! personagens tais... de muito ousado intento!
Reais, como em vitrine, perenes memórias.
Anônimos, mas bravos, no idôneo cenário,
Fidedigna essa amostra e inolvidável cor...
Revelando que adquire expressivo valor
Não melhor só por falta de mais calendário!
Com tanto cabedal, muito justa a alegria
Para que se exalte essa gloriosa parte
Do brasílico chão, conforme o seu destino
Notavelmente ilustre e excelsa a galeria
De artistas nas Ciências, Letras e nas Artes
Luminares da fama, brilhos nordestinos...
Porto Alegre (RS), outubro de 2007.
Com único objetivo de educar
Nos moldes que o Beato previu, quis,
Um prolongamento, eis, de Champagnat:
O querido Colégio São Luís.
Nele presente a mesma, única linha
Desde os idos do século passado,
Na senda da modéstia, são, caminha
E se vê sempre muito procurado.
O que dizer dos seus cento e vinte anos?
Nada mais que fiel desde a raiz,
Legado que, contentes, sublinhamos.
Deus te salve, colégio jubilar,
Persegue a tua sina e sê feliz
No escopo a que jus fazes: inovar.
Santa Cruz do Sul (RS), 09/03/1991.
Casa linda, por denso verde sublinhada,
Ao lado de não menos encantador lago
Crianças se divertem e gozam do afago
E da branda carícia da brisa aguardada.
Não existem crianças em cuja postura
Não se detenha o adulto, fato corriqueiro
Não somente em momentos, mas o tempo inteiro
Tanta e tal é, sem dúvida, a sua candura.
Nossos parabéns! Votos fazemos, diria
Visto que um "muito obrigado" preferiria
Salutar compromisso que aprecio mais.
Por tudo isso, desejo, agora, confirmar
De Liana e de Osvaldo, gentis, proclamar
Carisma que engrandece e que prezo demais!
Granja na qual a família se reúne. Taquari (RS), março de 2010.
Há muitos anos, levas de imigrantes
Pisaram nesta terra, Santa Cruz,
Provaram, com trabalhos relevantes,
Que ao bem o sacrifício sempre induz.
Com suor, terra humosa aqui regada
Foi generosa em frutos sazonados,
Porque, tenaz, a prole abençoada
Viu com amor seus campos cultivados.
Hoje, indústria pontilha a sede urbana
De chaminés, arautos do progresso,
Levando avante a fama alegremente.
Parabéns, pois, heróis, é bem humana
A mensagem que emana do recesso
Do teu ser, operosa e digna gente.
Suplicante, eis uma nostálgica praça
Da açoriana saga bicentenária
No abandono, em parte, triste e solitária
Perdendo, assim, aos poucos, a antiga graça.
Dolorido um lamento se evola aos ares
Do alquebrado e saudoso caramanchão
Gesto amigo almeja, de restauração
Para, garboso, unir os dois patamares.
Pois fundada esperança paira faceira
Num verde anseio, como pano de fundo:
O esbelto porte das altivas palmeiras.
Quem sabe... um largo abraço, quanto fecundo
Reconforte a presença lusa, altaneira
Na carente Praça Dom Pedro Segundo.
Taquari (RS), setembro de 1985.
Praça da catedral de linhas góticas
Magna expressão da fé consolidada,
Da pira e da retreta patrióticas,
Simbiose de Igreja e Pátria amadas.
Praça de claros sóis primaveris...
Recende a flor olente tanto aroma!
De rostos jovens, de outros já senis,
Quanto tempo a pensar sempre me tomas!
Praça das clarinadas, céu azul...
Da ridente estação, a de setembro
Que faz reviver Santa Cruz do Sul...
Praça... de ecos sonoros, natalinos,
Das policromas luzes de dezembro,
Natal do meigo Infante Deus menino...
Praça Getúlio Vargas, Santa Cruz do Sul (RS), setembro de 1972.
Símbolo, enfim, de Porto Alegre, o Laçador,
Guardião da Cidade, em praça assinalada...
Da alma gaúcha imagem passa, idolatrada,
E, em seu brioso porte, vivo o destemor.
Nele, honradez presente e garbo na bravura,
No fundo do sereno olhar, plena a franqueza,
À Cidade um sorriso franco, uma presteza
Que engodos não admite. Transparência pura.
Prudente e caloroso, jamais se desmente.
Basta que seu preceito não se desconheça,
Leal, no rosto, a marca da hospitalidade:
A todos os que chegam, "prazer, minha gente"
A quem parte, o convite "ei, amigo, apareça"
Finalmente, a quem fica, "sinta-se à vontade"
Porto Alegre (RS), outubro de 2007.